Políticas de combate ao desperdício alimentar nas organizações: um guia de perguntas e respostas

Como implementar políticas de combate ao desperdício alimentar nas organizações? 

O desperdício alimentar representa, inegavelmente, um problema central no panorama mundial. As suas consequências — de cariz social, ecológico e económico — constituem uma severa ameaça aos níveis de bem-estar das populações, às metas de sustentabilidade ambiental globais e, claro, à eficiência das organizações. 

De acordo com a Comissão Nacional de Combate ao Desperdício Alimentar (CNCDA), a ineficiência na gestão destes produtos representa: 

Uma oportunidade perdida para a economia e a segurança alimentar, mas também um desperdício de recursos naturais utilizados para o cultivo, o processamento, a embalagem, o transporte e a comercialização de géneros alimentícios.

Por conseguinte, é fundamental que governos, empresas e sociedade civil se empenhem neste desafio primordial. Exploramos, neste artigo de perguntas e respostas, algumas estratégias que as organizações devem equacionar nesse sentido.  

Como se define o conceito de “desperdício alimentar”? 

Para definir este conceito — certamente familiar para a maioria das pessoas —, pode revelar-se útil recorrer à formulação da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO): “O desperdício alimentar refere-se à diminuição da quantidade ou qualidade dos alimentos como resultado de decisões e ações tomadas por retalhistas, fornecedores de serviços alimentares e consumidores”. 

Similarmente, a CNCDA define este termo do seguinte modo:  

É qualquer substância ou produto transformado, parcialmente transformado ou não transformado, destinado a ser ingerido pelo ser humano ou com razoáveis probabilidades de o ser, do qual o detentor (produtor primário, indústria agroalimentar, comércio e distribuição e famílias) se desfaz ou tem intenção ou obrigação de o fazer, assumindo a natureza de resíduo.

De notar, pois, que o desperdício alimentar pode ocorrer em todas as fases da cadeia: da produção até ao momento do consumo, passando pela distribuição e pela transformação. 

Qual é o impacto deste problema? 

Os dados da Eurostat indicam que Portugal é o quarto país da União Europeia que mais desperdiça comida. Os números são, de facto, preocupantes: cada português desperdiça, em média, 2,38 kg de alimentos por semana

Indubitavelmente, o desperdício alimentar apresenta um conjunto amplo de repercussões significativas em múltiplas áreas. Destacamos, neste quadro, três eixos fulcrais, a saber: 

  • Social — num contexto mundial em que cerca de 735 milhões de pessoas sofrem de fome ou de malnutrição, de acordo com dados da FAO, de 2023, este problema consiste numa severa ameaça ao agravamento da injustiça social; 
  • Ambiental — a utilização desnecessária de recursos essenciais (como água ou energia, por exemplo) agrava a crise climática. Afinal, os resíduos alimentares geram cerca de 8 a 10% das emissões globais de gases com efeito de estufa; 
  • Económico — a ineficiência associada ao desperdício alimentar é responsável, sem dúvida, por perdas financeiras substanciais. Para as organizações (do setor alimentar, mas não só), isto significa mais custos operacionais e perda de receita. 

 

Políticas de combate ao desperdício alimentar nas organizações: um guia de perguntas e respostas

Prevenir, reduzir, monitorizar: como combater o desperdício de alimentos nas organizações? 

Num contexto pautado por um crescente escrutínio sobre a conduta das organizações, as empresas associadas a falhas graves no âmbito da sustentabilidade podem, decerto, enfrentar danos reputacionais. O desperdício alimentar consiste, portanto, num tópico crítico. 

Ademais, o novo Regime Geral de Gestão de Resíduos (nRGGR) aumenta a exigência relativamente a esta questão, sobretudo para o setor da restauração e para as cadeias de produção e de abastecimento. Aliás, o documento define metas de redução bastante ambiciosas, que requerem o compromisso de todo o tecido corporativo. 

Nesse sentido, as empresas — com particular foco, claro está, naquelas que lidam com a gestão de géneros alimentícios — devem seguir, pelo menos, cinco passos essenciais: 

1. Avaliar a dimensão do problema 

Primeiramente, é fundamental conduzir uma auditoria rigorosa e global concernente às práticas de desperdício alimentar na organização. Esta avaliação deve, então, debruçar-se sobre os mais diversos departamentos e os vários pontos da cadeia de abastecimento. Importa equacionar indicadores como, por exemplo: 

  • Interrupções na cadeia de frio dos alimentos
  • Níveis de stock excedentários; 
  • Ineficiências dos processos de produção e gestão dos produtos; 
  • Controlo das datas de validade; 
  • Volume e caracterização dos resíduos alimentares da empresa; 
  • Pegada ambiental e custos associados ao desperdício alimentar. 

 

Além disso, é fundamental caracterizar detalhadamente as causas do problema, sublinhando as necessidades concernentes à formação dos trabalhadores nesta matéria. 

2. Estipular metas 

Tendo este trabalho de avaliação como alicerce, as organizações devem, posteriormente, estabelecer objetivos específicos, mensuráveis e realistas — com prazos claros — para a redução do desperdício alimentar. 

3. Apostar na formação e sensibilização dos trabalhadores 

Os trabalhadores desempenham, inegavelmente, um papel decisivo na implementação de práticas de segurança alimentar e sustentabilidade no dia a dia. Por conseguinte, é essencial investir em formação contínua orientada para estes tópicos, procurando envolver toda a estrutura organizacional neste combate central. 

4. Adotar medidas práticas para evitar o desperdício alimentar 

Tendo em consideração as ineficiências e os problemas identificados nesta área, as empresas devem desenvolver um conjunto de soluções estruturadas e concretas, devidamente ajustadas à sua realidade. Entre as medidas mais relevantes a equacionar, incluem-se, por exemplo: 

  • Planeamento mais preciso e realista das compras (ou da produção) de géneros alimentícios; 
  • Implementação de práticas rigorosas no âmbito da receção e do armazenamento de alimentos, procurando assim conservá-los por mais tempo e facilitar a rotação dos bens; 
  • Adoção de processos que viabilizem o reaproveitamento sistemático dos produtos; 
  • Estabelecimento de parcerias para a doação de excedentes, privilegiando bancos alimentares e instituições de solidariedade social; 
  • Utilização de soluções tecnológicas que permitam monitorizar, em tempo real, a frescura dos produtos e a aproximação dos prazos de validade, por exemplo. 

 

5. Monitorizar os resultados 

Por fim, é essencial que as organizações assegurem o acompanhamento regular e preciso dos resultados das políticas de redução do desperdício alimentar. Só desse modo poderão avaliar o impacto das medidas — no que respeita à redução de custos ou à pegada ambiental, a título ilustrativo — e ajustá-las às necessidades identificadas. 

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