O atual panorama demográfico, um pouco por toda a Europa, pauta-se por um crescente envelhecimento da população, atendendo às baixas taxas de natalidade e, ainda, ao aumento da esperança média de vida. Este fenómeno apresenta, decerto, um impacto profundo e bastante diverso na sociedade. No que concerne ao mercado laboral — e às incontornáveis preocupações com o bem-estar nas empresas —, importa então avaliar as implicações decorrentes do envelhecimento no trabalho.
De facto, estas mudanças demográficas despertam uma inadiável necessidade de olhar com mais atenção para questões como o idadismo ou os procedimentos de Medicina do Trabalho para a população mais envelhecida.
Afinal, que cuidados especiais de saúde devem as empresas ter em conta? E como podem as organizações valorizar e garantir a segurança dos trabalhadores mais velhos?
O envelhecimento e o mercado de trabalho: um retrato estatístico
No dia 1 de janeiro de 2023, a idade mediana da população da União Europeia (UE) situava-se nos 44,5 anos, de acordo com dados recentes do Eurostat. Estes dados revelaram, também, que Portugal se destaca como o país com o ritmo mais rápido de envelhecimento na União Europeia. Afinal, entre 2013-2023, registou um expressivo aumento da idade mediana (de 4,4 anos), atingindo os 47 anos.
Considerando estas tendências, importa, inegavelmente, equacionar as mudanças significativas que se irão denotar na população ativa, no que diz respeito ao envelhecimento no trabalho. De acordo com um estudo da consultora norte-americana Bain & Company, no quadro global, aproximadamente 150 milhões de empregos serão ocupados por trabalhadores com 55 ou mais anos, até ao final desta década.
Do ponto de vista nacional, estes dados já começam a espelhar-se na população ativa: o grupo etário entre os 25-34 anos apresenta um peso percentual similar ao da faixa entre os 55-64 anos, na ordem dos 19%.
Além disso, segundo a informação da Pordata, a percentagem de pessoas entre os 55-64 anos tem vindo a aumentar gradualmente desde 2011 — altura em que representavam 12,1% da população ativa. Por outro lado, a faixa etária entre os 25-34 anos registou um decréscimo progressivo desde 2011, quando representava 25%.
Encarar o envelhecimento no trabalho: desafios a considerar
Neste contexto, as empresas devem preparar a sua resposta aos desafios relativos ao envelhecimento no trabalho. Isto revela-se especialmente importante, certamente, no que diz respeito aos cuidados de saúde no trabalho.
O declínio relacionado com a idade afeta sobretudo as capacidades físicas e sensoriais. Naturalmente, as funções que exigem um esforço físico maior demonstram-se mais afetadas por este fator. Porém, deve-se ter em consideração, igualmente, o significativo impacto inerente ao desgaste de algumas capacidades cognitivas, o que inevitavelmente se encontra associado ao envelhecimento no trabalho.
Não obstante, a Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho (OSHA) relembra que as empresas não devem encarar a idade como o fator determinante na avaliação da saúde e do desempenho dos profissionais mais velhos.
Nesse sentido, devem privilegiar-se os critérios de ordem ocupacional, relativos, por exemplo, à exposição cumulativa a determinados riscos profissionais, ao longo da vida. Estes fatores podem, pois, desencadear múltiplas doenças profissionais.
Fatores de risco associados ao envelhecimento no trabalho
O envelhecimento no trabalho é responsável por um conjunto amplo de desafios, sobretudo respeitantes à saúde desta população tendencialmente mais vulnerável. Entre eles, podemos então destacar:
- Condições de saúde crónicas — os trabalhadores mais velhos apresentam uma maior probabilidade de sofrerem de complicações crónicas, como artrite e hipertensão. Contudo, se devidamente controladas, podem não afetar o desempenho de funções;
- Saúde mental — além do desgaste psicológico que, decerto, costuma associar-se ao processo de envelhecimento no trabalho, alguns profissionais podem sofrer de idadismo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), esta atitude engloba “estereótipos, preconceitos e discriminação direcionados às pessoas, com base na sua idade”. Além disso, tendem a sentir mais frustração na interação com novas tecnologias;
- Stress ocupacional — o excesso de trabalho e a necessidade de cumprir determinados prazos podem gerar níveis mais elevados de ansiedade entre os trabalhadores mais velhos;
- Problemas respiratórios — a exposição prolongada a substâncias nocivas no trabalho (sílica, amianto, carvão, cortiça, madeira), por exemplo, é um dos elementos que justifica a maior correlação entre a incidência destas complicações e o envelhecimento no trabalho;
- Problemas de visão — o envelhecimento tem uma relação direta com a fadiga ocular (presbiopia). Este fator pode, então, originar cansaço e perdas significativas de produtividade;
- Perturbações do sono — insónia e apneia do sono são casos de condições mais frequentes em pessoas mais velhas. Afinal, cerca de 50% das pessoas com mais de 55 anos têm dificuldade em adormecer e manter um bom descanso noturno. Isto pode, decerto, afetar o desempenho das suas funções diárias.
Dicas de saúde no trabalho para trabalhadores mais velhos
As empresas devem, neste contexto, empreender um conjunto de esforços indispensáveis na proteção do bem-estar dos seus trabalhadores mais velhos. De acordo com a OSHA:
O local de trabalho tem um papel fundamental na promoção de um estilo de vida saudável e no apoio a atividades que previnam o declínio físico, ajudando assim a manter a capacidade laboral.
O combate ao agravamento destas condições no local de trabalho passa, certamente, pela implementação de medidas que promovam a inclusão e valorização de todas as faixas etárias. Isto é, abordar o envelhecimento no trabalho implica o acompanhamento próximo de cada trabalhador, adotando práticas personalizadas de Medicina do Trabalho.
Com esta estratégia, as organizações cumprem os três princípios fundamentais da gestão do envelhecimento no trabalho:
- Ênfase na prevenção, em vez de resolução de problemas já existentes;
- Atenção a toda a vida profissional e a todos os grupos etários, apostando numa política de acompanhamento;
- Investimento numa abordagem holística, abrangendo todas as dimensões que contribuem para uma gestão eficaz do envelhecimento no trabalho.
Consulte, na nossa infografia, alguns passos fulcrais a adotar para fomentar um envelhecimento ativo e saudável na sua organização:
A importância da Medicina do Trabalho no envelhecimento ativo
Acima de tudo, o envelhecimento no trabalho deve gerir-se por meio de uma política que procure, ativamente, valorizar os trabalhadores mais velhos e combater o idadismo. Aliás, a experiência acumulada destes profissionais aporta inúmeros benefícios a qualquer organização.
A Medicina do Trabalho desempenha, nesse sentido, um papel fundamental. Trata-se, afinal, de um recurso valioso para identificar atempadamente problemas de saúde ou de segurança dos trabalhadores. Além disso, revela-se um apoio crucial no desenvolvimento de planos de saúde ocupacional, cujo desenho permita evitar um envelhecimento no trabalho prematuro e fatigante.
Se pretende implementar uma cultura comprometida com a saúde e o bem-estar na sua empresa, com políticas inclusivas, conte com a experiência da equipa de Medicina do Trabalho da Centralmed. Assegure o acompanhamento personalizado de cada trabalhador para garantir um processo de envelhecimento no trabalho saudável e gratificante. Contacte-nos!