Gás radão no local de trabalho: como reagir e prevenir?

Quando realçamos a importância da Segurança no Trabalho para a produtividade, tendemos a pensar em riscos profissionais evidentes e na prevenção de acidentes laborais, por exemplo. Contudo, nem todas as ameaças à segurança dos trabalhadores se revelam tão óbvias. Aliás, a acumulação de gás radão constitui um fator de risco invisível, que passa facilmente despercebido.

Descubra então, neste artigo, as consequências da exposição ao gás radão e as estratégias a implementar para salvaguardar a segurança e a saúde no trabalho.

 

O que é o gás radão e quais são as suas principais características?

Como explica a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), o gás radão (símbolo químico “Rn”) consiste num gás nobre, radioativo e natural, sem cheiro, cor ou sabor. Ademais, a sua inalação é a principal fonte de exposição a radiação ionizante na população humana (41,6%).

O radão deriva, assim, do decaimento de urânio, tório e rádio nas rochas (principalmente granito) e no solo. O radão tem vários isótopos, todos eles radioativos e com tempos de semi-vida curtos, dos quais se destacam o Rn (Rn-222) e o torão (Rn-220).

Este elemento químico perigoso está presente em todo o lado (ar, água e solo), embora, geralmente, a sua concentração seja reduzida. Contudo, devido à sua impercetibilidade, o único método para averiguar os índices de radão consiste na sua medição com equipamento específico.

Além disso, o gás radão chega aos locais de trabalho escapando por fissuras no pavimento, nas paredes, nas janelas ou em canalização sem isolamento adequado. Posteriormente, poderá acumular-se no interior dos edifícios (principalmente no piso térreo), atingindo níveis preocupantes. Pelo contrário, a sua concentração no exterior raramente se eleva, graças à diluição e à dispersão no ar.

Os principais fatores que condicionam a concentração de gás radão num local de trabalho incluem, por exemplo:

  • Tipo de solo sobre o qual assenta o edifício (geologia);
  • Materiais e técnicas de construção;
  • Infiltrações de água;
  • Clima (regiões temperadas e frias apresentam níveis de pressão que facilitam a deslocação do gás radão);
  • Eficácia da ventilação;
  • Hábitos de utilização do espaço.

 

Quais são os efeitos do radão na saúde?

A exposição prolongada ao gás radão constitui, então, uma das principais causas do cancro do pulmão (a mais relevante em não fumadores). Além disso, trabalhadores fumadores encontram-se em maior risco (cerca de 25 vezes superior), devido à combinação entre o radão e o tabaco.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que 3-14% dos casos de cancro do pulmão no mundo derivem da exposição ao gás radão. Já na Europa, cerca de 9% das mortes por cancro do pulmão associam-se ao radão. Nos EUA, a Environmental Protection Agency (EPA) estima que cerca de 20.000 pessoas morrem, anualmente, devido a cancro do pulmão derivado do gás radão.

Também a Agência Internacional de Pesquisa do Cancro (IARC) lista o gás radão entre os principais cancerígenos para os seres humanos.

 

Caracterização do gás radão em Portugal

Em 1987, o Departamento de Proteção e Segurança Radiológica do antigo Laboratório Nacional de Engenharia e Tecnologia Industrial determinou a concentração média de gás radão em Portugal (37 Bq/m3) e a dose efetiva de radão na população portuguesa devido à inalação (1,9 mSv/ano).

Em determinadas regiões (como, por exemplo, no norte do país e no centro interior), destacadas no “Mapa de suscetibilidade ao radão”, a média da concentração de gás radão no interior dos edifícios tende a revelar-se mais elevada. Este mapa nasceu de uma campanha nacional de monitorização do gás radão, desenvolvida pela APA e pela Universidade de Coimbra, em 2020.

 

Legislação associada à exposição ao gás radão no trabalho

De acordo com a legislação em vigor relativamente à proteção radiológica e o Plano Nacional do Radão (PNRn), as empresas devem avaliar periodicamente a exposição ao gás radão dos seus trabalhadores.

O único método rigoroso para determinar a exposição ao radão consiste, pois, na medição da sua concentração no interior dos edifícios. Aliás, recomenda-se a utilização de detetores passivos, durante, pelo menos, três meses e no máximo um ano, para permitir a comparação dos resultados com o valor de referência nacional (300 Bq/m3). O objetivo será manter níveis tão baixos quanto razoavelmente possível.

A frequência das monitorizações da exposição ao radão dependerá, assim, das características de cada local de trabalho e da sua área de suscetibilidade.

Poderá assegurar uma medição precisa da concentração de gás radão no local de trabalho, recorrendo a empresas e laboratórios acreditados pela APA para essa monitorização, que obedecem a critérios e procedimento de validação pela autoridade competente.

Além disso, para esclarecer qualquer dúvida relativamente aos critérios de avaliação do risco de exposição ao radão no local de trabalho, recorra ao “Guia para empregadores”.

Como medir o radão no local de trabalho?

A concentração de radão no interior dos edifícios varia, principalmente ao longo do dia (eleva-se durante a noite), consoante a estação (cresce no inverno, diminui no verão) e de ano para ano.

Portanto, a duração da medição de radão constitui um fator crucial, influenciando a representatividade dos resultados. Medições de gás radão de longa duração (entre três meses e um ano) permitem, então, determinar a concentração média anual de radão.

Pelo contrário, medições de curta duração ou instantâneas devem encarar-se apenas como indicações, e não devem utilizar-se como única forma de medição.

Para a medição de radão no local de trabalho, poderá utilizar dois tipos de instrumentos de pequenas dimensões e com instruções simples, a saber:

  • Detetores ativos — carecem de componentes ativos (como bombas ou energia) para a medição do gás radão;
  • Detetores passivos — dispensam energia e concretizam a amostragem por difusão.

 

A APA recomenda que, pelo menos, a primeira monitorização de diagnóstico e a medição da eficácia das medidas corretivas implementadas recorram a detetores passivos. Deverá repetir as medições de gás radão de acordo com a periodicidade definida no mapa de suscetibilidade, os valores obtidos na medição e após obras com impacto nos sistemas de ventilação e aquecimento.

Para instalar um detetor de radão com sucesso, deve, assim, cumprir os seguintes passos:

  • Colocar o medidor de radão a 1-2 metros do chão, num espaço livre, na divisão mais utilizada do edifício;
  • Afastá-lo da parede e de fontes de calor ou luz solar;
  • Evitar deixá-lo num local com acumulação de pó ou humidade;
  • Medir a concentração de gás radão durante, pelo menos, três meses;
  • No final do período de medição, enviá-lo para análise em laboratório.

 

Medidas de prevenção e proteção dos trabalhadores contra o radão

As medidas preventivas e corretivas associadas ao gás radão dividem-se em duas categorias, a saber:

  • Medidas ativas — aplicam métodos mecânicos para ventilação ou despressurização;
  • Medidas passivas — aproveitam a ventilação natural.

 

O ideal será, decerto, combinar ambas as tipologias, para reduzir a concentração de gás radão.
Entre as medidas preventivas a adotar na construção, destacam-se, assim:

  • Isolar estruturas com barreiras antirradão;
  • Despressurizar o terreno;
  • Otimizar a ventilação natural.

 

Já nas medidas corretivas, salientamos, por exemplo:

  • Melhorar a ventilação (natural e mecânica) no subsolo e no piso térreo;
  • Manter uma pressurização positiva no interior do edifício;
  • Aplicar membranas de isolamento contra radão nos pavimentos e nas paredes.

 

Após a aplicação de medidas preventivas ou corretivas contra o gás radão, deverá medi-lo, para verificar a sua eficácia. Além disso, os sistemas de controlo contínuo dos níveis de gás radão nos locais de trabalho requerem manutenção e inspeção periódica.

Se, após a implementação destas medidas contra o radão, a concentração no local de trabalho permanecer acima de 300 Bq/m3, deverá avaliar a dose efetivamente absorvida pelos trabalhadores, garantindo que não excede 6 mSv/ano.

Trabalhadores expostos a doses superiores a 6 mSv/ano requerem medidas de proteção adicionais, como, por exemplo:

  • Delimitar os locais com maior incidência de radão;
  • Controlar as entradas nas áreas mais afetadas;
  • Minimizar a permanência nas zonas de maior risco;
  • Instalar sinalética de aviso (símbolo de perigo de radioatividade);
  • Aplicar medidores de radão pelos trabalhadores nos locais afetados.

 

Se pretende proteger os seus trabalhadores contra a exposição ao gás radão e a outros riscos profissionais, conte com a equipa de especialistas em Segurança no Trabalho da Centralmed.

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