Portugal está a enfrentar “um tsunami” na área da saúde mental como consequência da COVID-19, afirmou Miguel Ricou, presidente do Conselho de Especialidade da Ordem dos Psicólogos e professor universitário de Bioética, ao jornal Público, avaliando os efeitos da pandemia na saúde mental dos portugueses.
Ainda que assuma não existir literatura suficiente para concluir que a pandemia da COVID-19 foi o mote para o aparecimento de doenças do foro psicológico em estadio grave, Miguel Ricou entende que pode ter havido um agravamento devido à maior dificuldade de acesso às consultas. Por outro lado, não hesita em afirmar que é visível a correlação entre a pandemia e doenças como “ansiedade, depressão, distúrbios de sono, comportamentos obsessivo-compulsivos e aditivos”.
O que mostram os estudos sobre o efeito da pandemia
De facto, os estudos que têm sido divulgados comprovam esta correlação. É o que diz, por exemplo, um documento que analisa os efeitos da pandemia na saúde mental dos adultos, tendo sido elaborado pela Task Force Ciências Comportamentais, criada pela Direção-Geral da Saúde (DGS) e aplicada ao contexto da pandemia de COVID-19.
A pandemia COVID-19 e, muito em particular, as estratégias iniciais de controlo da transmissão de SARS-CoV-2 criaram um contexto de potencial incremento da prevalência de sofrimento psicológico.
Como determinantes do sofrimento psicológico, a Task Force refere:
- os confinamentos (não só pelas fortes restrições, mas também pela sua extensão temporal);
- o desconhecimento sobre os riscos reais de doença e letalidade do vírus;
- a perceção generalizada de restrição de acesso a serviços básicos (caso do encerramento de escolas, serviços de transportes públicos ou até de serviços de saúde);
- a limitação dos contactos pessoais;
- o ter sido infetado ou o medo de infeção;
- o constante acesso a informação “carregada de emoções negativas”;
- as perdas financeiras.
“Com efeito, a pandemia e as medidas de confinamento e de restrição de contactos interpessoais provocaram alterações profundas nos estilos de vida, com potencial impacto na saúde mental e no bem-estar das populações, estando associados a aumento de prevalência de sintomas de ansiedade, depressão, perturbação de stress pós-traumático e burnout, entre outros”, conclui o estudo.
Os dados são reveladores
O inquérito Saúde Mental em Tempos de Pandemia COVID-19, coordenado pelo Departamento de Promoção da Saúde e Prevenção de Doenças Não Transmissíveis do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, revela alguns dados que evidenciam os efeitos da pandemia na saúde mental dos portugueses.
Como melhorar a saúde mental
Estes dados são bastante relevantes não só porque permitem perceber os efeitos da pandemia na saúde mental, mas também porque são a base para formular as recomendações mais adequadas para mitigar os problemas e promover a saúde mental da população.
Nesse sentido, a Task Force salienta alguns pontos essenciais para melhorar o bem-estar físico e mental e superar os efeitos da pandemia na saúde mental.
1 – Reforçar mensagens de saúde pública focadas nos seguintes pontos:
- Prática de exercício físico;
- Higiene do sono;
- Alimentação saudável;
- Diminuição do uso de substâncias.
2 – Intervir atempadamente em grupos de maior risco, monitorizando e fazendo rastreios junto de círculos específicos, como escolas, contexto laboral, lares, entre outros.
A monitorização da saúde mental no local de trabalho
De facto, os locais de trabalho constituem um espaço importante para fazer a vigilância da saúde mental. Ciente disso, a DGS criou um guia técnico intitulado Vigilância da Saúde dos Trabalhadores Expostos a Fatores de Risco Psicossocial no Local de Trabalho, no qual se destaca a relevância da pandemia.
A enorme crise de saúde pública ocasionada pela pandemia da COVID-19 provocou uma disrupção, sem precedentes, na economia e na sociedade em geral e desencadeou profundas e rápidas mudanças laborais que geraram, agravaram e realçaram os riscos psicossociais e que colocaram em evidência a relevância da saúde e do bem-estar dos trabalhadores, bem como a importância da gestão dos riscos psicossociais no contexto do trabalho.
Nesta matéria, a DGS reforça a relevância dos exames de saúde, tanto de admissão, como periódicos. Assim, é possível detetar precocemente problemas de saúde mental ou mesmo fazer uma melhor gestão do regresso ao trabalho após episódios de doença mental.
Mas, mais do que isso, tendo em conta que os problemas de saúde mental têm impacto nos locais de trabalho — originam absentismo, perda de produtividade, stress elevado, mau ambiente e discriminação —, os enquadramentos modernos defendem uma abordagem holística da saúde mental nos locais de trabalho.
Ou seja, defende-se uma abordagem que encara o local de trabalho como um espaço capaz de proporcionar um contexto social no qual se pode desenvolver um ambiente mentalmente saudável que beneficie todos os colaboradores, trabalhando a promoção do bem-estar psicológico e a melhoria do desempenho juntamente com medidas preventivas.
Desta forma, podem ser trabalhadas as seguintes áreas:
- identificação de fatores de risco no local de trabalho (avaliação de riscos psicossociais);
- aplicação de medidas organizacionais para reduzir os riscos identificados;
- desenvolvimento de uma cultura/ambiente no local de trabalho conducente à saúde dos trabalhadores e bem-estar;
- ações de formação e sensibilização sobre questões de saúde mental para os gestores, bem como para os trabalhadores;
- inclusão de programas de saúde e bem-estar nas organizações (incluindo, por exemplo, ginástica laboral, meditação guiada, massagens de relaxamento, entre outras).
Se procura promover e salvaguardar a saúde mental e o bem-estar dos trabalhadores, conte com o profissionalismo e a experiência das Equipas SST da Centralmed.