Várias doenças neurológicas podem afetar trabalhadores de qualquer idade ou sexo, prejudicando, certamente, a sua produtividade ou mesmo incapacitando-os. Além disso, estima-se que 60% dos europeus sofrem ou sofrerão de doenças neurológicas ao longo da vida. Assim, o impacto socioeconómico destes distúrbios revela-se inegável, a par da queda da qualidade de vida que provocam.
Para assinalar o Dia Mundial do Cérebro (22 de julho), uma iniciativa da World Federation of Neurology, exploraremos então, neste artigo, algumas patologias neurológicas que impactam a vida e a saúde de inúmeros trabalhadores.
O que são doenças neurológicas?
As doenças neurológicas constituem distúrbios do sistema nervoso central (encéfalo e medula espinal) e periférico (nervos e gânglios nervosos). O papel do sistema nervoso assume-se, sem dúvida, como crucial para a preservação da saúde, controlando todas as funções vitais do organismo. Regula não só funções básicas como batimento cardíaco e respiração, mas também funções complexas como o pensamento, a resolução de problemas e a comunicação.
Nos jovens predominam patologias não degenerativas, como, por exemplo, cefaleias ou epilepsia. Já nos trabalhadores mais velhos imperam doenças neurológicas degenerativas, nomeadamente demências.
Que tipos de doenças neurológicas existem?
Embora todas as doenças neurológicas se relacionem com problemas no sistema nervoso, existem tipologias específicas, como:
Doenças neurológicas adquiridas
As doenças neurológicas adquiridas resultam de tumores, traumatismos, lesões ou infeções virais do sistema nervoso. Aqui integra-se, por exemplo, o Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Doenças neurodegenerativas
As doenças neurológicas degenerativas (ou neurodegenerativas) revelam-se altamente incapacitantes, pois resultam de um processo irreversível de morte progressiva de neurónios. Além disso, não se conhecem as suas causas concretas, supondo-se que derivam de uma combinação de fatores genéticos e ambientais.
Os sintomas podem variar. Por exemplo, na doença de Parkinson encontramos distúrbios nos movimentos, enquanto nas demências, como o Alzheimer, se verifica perda de função cognitiva. Por fim, todas as doenças neurológicas degenerativas resultam numa atrofia cerebral progressiva.
Doenças neurológicas desmielinizantes
As doenças neurológicas desmielinizantes englobam todas as patologias em que ocorre danificação grave da bainha de mielina (barreira de gordura protetora que envolve as fibras nervosas). Esta condição conduz à morte das fibras nervosas e consequente interrupção dos sinais transmitidos.
Doenças neurológicas funcionais
As doenças neurológicas funcionais constituem distúrbios multifatoriais que interferem com a capacidade cerebral de receber e enviar sinais, embora não derivem de qualquer lesão ou degeneração estrutural no sistema nervoso. Nestes casos, os sintomas surgem, então, subitamente e progridem rapidamente, variando ao longo do tempo, com inconsistência.
Aliás, como refere a Sociedade Portuguesa de Neurologia, atendendo à inexplicabilidade por outras causas dos seus sintomas, estas doenças neurológicas designaram-se, historicamente, como “psicogénicas” ou “psicossomáticas”. Geralmente, fatores genéticos, ansiedade excessiva, problemas no trabalho e conflitos agravam os sintomas.
Por vezes, as doenças neurológicas funcionais surgem em comorbidade com outras patologias, como traumatismos. O seu tratamento envolve fisioterapia, terapias ocupacional e cognitivo-comportamental e a toma de medicação.
Sintomas a que deve estar atento: quando deve procurar um neurologista?
Existem, certamente, alguns indícios de doenças neurológicas que deve conhecer e que exigem a consulta célere de um especialista.
Quais são as doenças neurológicas mais comuns?
Algumas doenças neurológicas apresentam, inegavelmente, uma prevalência superior à que julgamos. Podemos destacar alguns exemplos de patologias frequentes, a saber:
Enxaqueca
A enxaqueca, caracterizada por dores de cabeça (denominadas “cefaleias”) derivadas da hipersensibilidade do sistema nervoso, é, sem dúvida, uma das doenças neurológicas mais usuais. Trabalhadores com enxaqueca devem receber acompanhamento médico para regulação da medicação, evitar luzes, sons e odores intensos, controlar o stress e dormir adequadamente.
Epilepsia
A epilepsia consiste numa das doenças neurológicas que provocam convulsões imprevisíveis, por alteração temporária da atividade elétrica do cérebro. Pode controlar-se com medicamentos e, em casos mais complexos, através da estimulação do nervo vago e de cirurgia.
Caso encontre alguém com um ataque de epilepsia, proteja a cabeça do doente, desobstrua-lhe a boca e nunca o agarre. Quando a crise terminar, coloque-o na Posição Lateral de Segurança (PLS) e aguarde por assistência médica.
Alzheimer
Alzheimer é uma das doenças neurológicas crónicas mais conhecidas, abrangendo 60-70% dos casos de demência no mundo. O seu diagnóstico precoce revela-se, pois, essencial para aumentar a sua probabilidade de tratamento, geralmente reduzida. Os trabalhadores com Alzheimer devem, assim, receber acompanhamento psicológico e de nutrição, na regulação da medicação, para estimulação cognitiva e terapia ocupacional.
Os fatores de risco para o desenvolvimento de Alzheimer incluem questões genéticas, sexo (é mais frequente nas mulheres), envelhecimento (principalmente a partir dos 65 anos), défice cognitivo ligeiro e trauma craniano grave ou recorrente.
Disfagia
A disfagia caracteriza-se pela dificuldade em iniciar a deglutição e a sensação de que os alimentos estão retidos no trajeto entre a boca e o estômago. Ocorre após 33-66% dos casos de AVC, embora seja temporária em 90% desses.
O seu diagnóstico precoce revela-se essencial para evitar complicações como pneumonias de aspiração, desidratação e desnutrição. O seu plano terapêutico envolve modificações da textura dos alimentos, técnicas posturais e exercícios para melhorar o controlo motor. Nos casos mais graves, implementa-se, por exemplo, sonda gástrica ou gastrostomia.
Traumatismo cranioencefálico (TCE)
O traumatismo cranioencefálico constitui uma lesão cerebral provocada por uma força externa, geralmente um impacto, que resulta numa incapacidade temporária ou permanente. Deriva, por vezes, de acidentes no trabalho, que podem prevenir-se com o investimento numa cultura de segurança robusta.
Parkinson
A doença de Parkinson nasce de uma carência de dopamina que afeta os gânglios basais, provocando, então, rigidez e tremores nos músculos principais do corpo. Medicação e cirurgia podem auxiliar no seu controlo. Além disso, os trabalhadores com Parkinson devem receber reabilitação, fisioterapia, terapia ocupacional e da fala.
Acidente Vascular Cerebral (AVC)
Entre as doenças neurológicas encontramos também a principal causa de morte e incapacidade em Portugal: o AVC. Deriva da obstrução de um vaso sanguíneo ou de uma perfusão que conduz a enfarte ou hemorragia no parênquima cerebral.
Existem três sinais de Acidente Vascular Cerebral, comumente designados por “3 F”: distúrbios na fala, na força e na face.
Neste caso, o controlo de fatores de risco, com a implementação de medidas de prevenção, revela-se, decerto, fundamental. Esses cuidados incluem, por exemplo:
- Reduzir o consumo de sal;
- Efetuar uma alimentação saudável e praticar exercício;
- Controlar a hipertensão e o colesterol;
- Monitorizar diabetes;
- Não fumar.
Os trabalhadores que sofram um AVC necessitam, posteriormente, de reabilitação, supervisão e, por vezes, apoio permanente, devido à perda de autonomia.
Medidas de prevenção e apoio a doenças neurológicas no local de trabalho
Embora muitas doenças neurológicas não apresentem ainda cura, importa preveni-las ou controlá-las com tratamentos (cada vez mais sofisticados), salvaguardando a qualidade de vida dos trabalhadores.
As empresas devem estar atentas a sintomas de doenças neurológicas nos seus trabalhadores, além de implementarem medidas de prevenção como, por exemplo:
- Promover uma alimentação saudável;
- Fomentar as pausas ao longo do dia para exercício físico e relaxamento;
- Respeitar os horários de descanso dos trabalhadores;
- Estimular o envolvimento social e intelectual;
- Alertar para os perigos do tabagismo;
- Combater o stress laboral;
- Providenciar os Equipamentos de Proteção Individual (EPI) adequados aos trabalhadores em risco de sofrer traumatismos cranianos;
- Apoiar trabalhadores que sofrem de doenças psicológicas, como ansiedade e depressão;
- Sensibilizar os trabalhadores para a importância de consultar um neurologista assim que detetem os primeiros sintomas de doenças neurológicas.
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